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Fortaleza questiona número de farmácias

Projeto

Questionamentos:

Nos últimos anos, foi possível perceber um aumento no volume de unidades de farmácias em Fortaleza. Muitas pessoas comentam sobre o surgimento de novas filiais nas esquinas, rapidamente, e próximas umas das outras. O Sindicato dos Farmacêuticos confirmou que, neste ano, o número de farmácias registradas no sindicato, no Ceará, chega a 4.767, além das que estão irregularmente no mercado. Em Fortaleza, o Conselho Regional de Farmácia afirmou que existem 612. As farmácias que mais multiplicam seus números de filiais na capital são das redes Pague Menos, Extrafarma e Drogasil. Nenhuma das empresas citadas respondeu de que forma conseguem manter crescente número de novas unidades, mas alguns estudos podem explicar esse efeito. Confira registro da construção de cada farmácia.

Pontos de vista: domínio econômico de algumas empresas

“Esse crescimento do número de farmácias está muito ligado à questão competitiva e concorrencial desse tipo de mercado. Grandes grupos empresariais do eixo sul e sudeste chegam aqui na nossa cidade para tentar, de certa forma, prejudicar o fluxo de caixa da nossa empresa local e passam uma percepção de que existe uma farmácia a cada esquina. Isso é uma estratégia mesmo competitiva.”

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Reprodução / Site - VectorStock.

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Allisson Martins, 37, economista e professor

Programa: Enquete com a população

Mapa das Farmácias

O economista explica que a vinda de empresas farmacêuticas, e a sua rápida instalação em vários locais da cidade, traz preocupações para a geração de renda para companhias menores e locais. Ele conta que, nos últimos anos, pequenos grupos de firmas do mercado farmacêutico conseguiram eficiência, ganho de escala e capacidade financeira para trazer dificuldades para outras farmácias locais, competir por outras localidades, e com outros estados. Ele chama a atenção para o “oligopólio” formado por essas organizações. “No Brasil, não existe um monopólio no segmento da área farmacêutica. Na verdade, que temos é um segmento farmacêutico oligopolizado, um segmento de oligopólio. São poucas empresas, não apenas uma. Geralmente entre quatro e cinco grupos que dominam o mercado. E então, nessa evolução histórica, os grupos farmacêuticos do eixo sul-sudeste perceberam que no Ceará nasceu um grande grupo, e decidiram trazer para cá as suas lojas, e replicar esse modelo nacional aqui. Essas grandes empresas estão chegando, estão formando um mercado oligopolizado. E a competição de preço e outros serviços agregados vêm trazendo benefícios para os clientes.” Allisson afirma que a concorrência entre farmácias pode trazer um benefício para os clientes, pois as farmácias tentam colocar o preço mais baixo para o cliente.

 Em pesquisas realizadas pelo IBGE, apontadas pelo professor, é registrado um leve aumento de consumo de produtos farmacêuticos, em 2019. O crescimento foi de 2%. 

Influências no mercado de farmacêuticos

O presidente do Sindicato explica que, em farmácias menores, era comum muitos farmacêuticos apenas assinarem como responsáveis por aquele estabelecimento, recebendo salários abaixo do piso estabelecido, mas sem precisar permanecer no local. “Antigamente, muitos boticários apenas assinavam os horários que estavam nas farmácias. Com a maior fiscalização, foi possível diminuir bastante o número de empresários que contratavam farmacêuticos por um preço inferior, sem que ele nem precise estar na farmácia.” Ele aponta que a lei número 13021 aponta como necessária a presença de, no mínimo, um boticário, durante o funcionamento da loja. E a loja deve organizar o horário de trabalho do funcionário dentro do limite estabelecido.

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Reprodução / site - pixabay.

Para Geovânia Silva, farmacêutica que trabalha na rede Drogasil há um ano, esse aumento representa a tecnologia que o mercado têm investido nos medicamentos, além da maior procura das pessoas pelos profissionais. “Antigamente não existia tanta farmácia como a gente vemos hoje. Praticamente em todas as esquinas, você tem uma grande facilidade de encontrar os remédio, hoje em dia. E outra, a tecnologia, de fórmulas mais avançadas, estudos mais avançados, a procura da cura(...). o crescimento do número de farmácia é muito bom. É em prol do paciente, a quem realmente precisa de um fármaco, da cura, ou do acompanhamento. E nem sempre a pessoa vem na farmácia em busca do medicamento, e sim da assistência farmacêutica, ou indicação.” 

Ela destaca a forte tendência à automedicação, e a grande busca por remédios que ofereçam resultado o mais rápido possível. Ela coloca também como razão para uma grande crescimento no ramo farmacêutico é a adoção de não apenas fármacos, mas produtos de perfumaria. “Hoje em dia a gente nota que a população procura muito mais a questão do uso de remédios. E também a questão da perfumaria, cada vez mais as redes estão investindo em uma maior diversidade de produtos. Na parte de dermatologia, por exemplo, antigamente não existia tanta variedade de produtos. Hoje em dia a gente se cuida mais, não apenas em questões de remédios, mas na beleza também”. Luana Soares, que trabalha no ramo farmacêutico a 5 anos e atualmente trabalha para a Extrafarma, explica que, mesmo com o aumento de farmácias, muitos formados ainda estão desempregados. Além disso, na disputa por territórios na cidade, ela explica que há uma tendência em se aglomerarem em uma parte da cidade. 

Confira a entrevista ping pong. 

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Reprodução / Site - Quero Bolsa

Ao ser questionado sobre uma possibilidade de exploração de funcionários nas redes que mais crescem na cidade, ele afirma que as grandes farmácias tendem a funcionar corretamente. “Encontrávamos muitas irregularidades nas farmácias menores, com apenas uma ou duas filiais, em interiores. Agora que o segmento está se estendendo muito, as grandes redes tendem a trabalhar corretamente. Não pela empresa que tem esse cuidado, pois sem fiscalização tudo fica a bel prazer. Farmácias de grandes nomes e grandes redes não vão querer o nome sujo por conta da falta de um profissional responsável para orientação. Com isso, nós contamos com campanhas de valorização que mostrem a importância do farmacêutico na farmácia está sendo uma cultura que pega bastante a população.” Ele diz que, na verdade, o aumento de farmácias causa uma grande valorização da profissão, e estimula um crescimento também da quantidade de profissionais que se formam anualmente. “É interessante o aumento de farmácias, porque isso traz a valorização. Quanto mais gente procura, quer dizer que a profissão é valorizada. Mas apenas temos que ter cuidado para que essa valorização não se transforme em algo puramente comercial, tem que ser entendido que o papel do farmacêutico é de um profissional de saúde, ele tem que cuidar da saúde do paciente”. 

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Reprodução / site - NewWaySys.

Dados
Cidade

Visões da cidade

O urbanista e professor, Marcos Lima, explicou que, no curso, as estruturas das farmácias é bastante discutida e têm relação com a ocupação de vários pontos da cidade. “No quesito de ocupação de terrenos, principalmente de esquinas, a estratégia escolhida apresenta vantagens e desvantagens. Do ponto de vista urbano, as farmácias fazem uma certa liberação visual. Sem a utilização de muros, elas acabam desafogando a o ângulo de visão nas esquinas, promovendo também um conforto visual.”

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Professor Marcos Lima, curso de arquitetura e urbanismo unifor

Ele justifica que, pela massa edificada das ruas, quando temos uma esquina onde você consegue ter uma abertura visual é vantajoso. Outro importante ponto para as farmácias é a organização visual delas. “As farmácias possuem um padrão que é obedecido a risca, para garantir a identidade de cada uma. Apesar de que esse molde seguido, entre elas mesmas, é muito parecido. Elas ficam bastante na esquina e têm uma iluminação branca, muito forte, chamando a atenção para o interior da loja, e placas nas duas fachadas. Fixadas diretamente na fachada. Ela é muito simples, do ponto de vista da sua manifestação de identidade visual.” Em estudos, foi explicado que o que gera essa poluição visual por farmácias está relacionado com a repetição, na proximidade uma com a outra.

Reprodução / site - facebook

“Às vezes noto o número de farmácias que estão sendo construídas. Não é um fenômeno que acontece apenas em Fortaleza, acontece igualmente em outros lugares, mas faz parte de uma política de marketing e comercial agressiva dessas farmácias. Há uma disputa gigantesca, do ponto de vista de prender atenção do consumidor, de ter essa concorrência, e ao mesmo tempo que há uma disputa de terra por parte delas. 

Segundo Marcos, o crescimento das farmácias não acontece apenas em Fortaleza, mas que isso faz parte de uma política de marketing agressivo. “Do ponto de vista urbano, isso é tão curioso quanto a essência dessas ocupações. As empresas criam fundos de terra, também. E passam a exercer não apenas o comércio do produto, mas a comercialização e a própria ação do território. E como são lotes de esquina, são muito valorizados”. De acordo com ele, é melhor um estabelecimento ocupar um lote de esquina do que no meio da quadra, pois há duas frentes de visibilidade. 

Repercussão nas redes sociais

 

E como tudo que acontece em Fortaleza se transforma em piada, não seria diferente em relação ao crescimento das farmácias na cidade. Isso começou depois usuários do Facebook compartilharam a publicação que dizia “Um medo em Fortaleza: ficar parado muito tempo numa esquina e virar uma Pague Menos”, a partir daí, usuários criaram memes, fazendo montagens das Farmácias Pague Menos em Marte e, até mesmo, na Fenda do Biquíni, cenário do desenho animado Bob Esponja. A própria Farmácia Pague Menos brincou com a situação e publicou um meme feito pela própria empresa. 

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Reprodução / site - instagram: @paguemenos

Clariana Matias

Jornalista, redatora e investigadora.

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A investigação sobre o crescimento das farmácias em Fortaleza foi uma experiência enriquecedora e de muita aprendizagem. Acredito que eu tenha expandido o meu olhar sobre o fazer jornalístico e conseguido entender que, nem sempre, o que parece óbvio é um fato.

Caio Magno

Jornalista, elaborador do site e investigador.

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A experiência de investigar e apurar tudo foi único, além disso enriqueceu minha noção de como é o jornalismo. 

Luana Façanha

Jornalista, redatora, investigadora e pauteira.

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Poder investigar o fenômeno das farmácias em fortaleza foi uma experiência muito importante para entender a cidade, e a apuração jornalística.

Roger Holanda

Jornalista

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Eu achei um trabalho interessante, pois acabou exigindo uma certa maturidade da nossa parte se tratando da produção.

Equipe
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